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Comida de mentirinha

Prof. Dr. Renato M. E. Sabbatini

O Homo sapiens é um bicho muito estranho, mesmo. Todos os animais têm algum tipo de mecanismo fisiológico de limitação da ingestão de alimentos, que entra em ação automaticamente quando é atingida a quantidade necessária e suficiente para manter o estado nutricional. É o chamado sistema de saciedade, controlado por uma estrutura de uns três milímetros, situada na base do cérebro, o hipotálamo lateral.

Nós, não. Na maioria das pessoas, esse mecanismo é destruído na tenra infância, através dos hábitos de super-alimentação caracteristicamente impostos pelos pais, apavorados (indevidamente) com a idéia que o filho vai ficar desnutrido por não comer bem. Assim, o excesso de peso é um problema das classes média e alta em todos os países desenvolvidos. Nos EUA, por exemplo, mais de 60 % da população pode ser considerada obesa, e nunca, na história, existiram tantos super-obesos, que podem ter sérios problemas correlatos de súde, como diabetes, hipertensão, doenças da coluna, etc (para saber se você é obeso, divida o seu peso, em quilos, por sua altura elevada ao quadrado, em metros. Se o número resultante for maior que 30, você é obeso, se for maior que 40, você é super-obeso. Se o índice ficar entre 25 e 30, você não é obeso, mas tem excesso de peso.).

Por isso, a indústria do emagrecimento fatura bilhões de dólares em todo o mundo. A busca por comidas de mentirinha, ou seja, que têm pouco valor nutricional e calórico, como os adoçantes artificiais, é muito intensa. A Food and Drugs Administration (FDA), o órgão do governo americano responsável pelo teste e liberação para consumo de alimentos industrializados e de medicamentos, recentemente aprovou a comercialização de um desses ingredientes alimentares, o Olestra, para consumo humano. O Olestra tem as mesmas propriedades da gordura (serve para fritar alimentos, fazer cremes, molhos, etc.), mas não é absorvido pelo intestino. Portanto, comidas com aspecto altamente apetitoso, se preparadas com o Olestra, não engordam através do seu conteúdo de gorduras animais e vegetais.

O novo produto, aguardado com ansiedade pelos milhões de gordinhos do mundo, tem provocado muita polêmica entre os especialistas. Segundo o Dr. Michael Jacobson, do Center for Science for Public Interest, dos EUA, o Olestra tem valor nutricional negativo, ou seja, afeta a absorção de outros alimentos. Além disso, causa náuseas e diarréia em algumas pessoas, e pode, teoricamente, aumentar casos de câncer de c&o não é esse, e sim o mesmo que aconteceu com os famosos cigarros de baixo teor de nicotina e alcatrão. Os fumantes aumentam a quantidade diária de cigarros, para compensar o baixo teor de cada cigarro ! Se a gordura fosse o único elemento nu


Publicado em: Jornal Correio Popular Campinas,
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