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Correio Eletrônico

Celulite, Estrias, Flacidez
25/2/2001
Gostaria de receber informações sobre o que penso ser uma disfunção sexual feminina, que é a falta de desejo sexual. 
Há cerca de dois anos que não sinto desejo sexual pelo meu parceiro sexual o que tem em muito afetado o nosso relacionamento.

No entanto, quando consigo transpor essa barreira as relações sexuais são satisfatórias. 
 
 

Resposta

Essa é uma situação que pode ser resolvida, desde que vocês se  amem. É dificil, no entanto, te ajudar com algum conselho se não for feito um diagnóstico mais preciso da causa da falta de libido e de orgasmo. 

As causas podem ser muitas, e multiplas (interacoes de varias causas), mas elas se classificam em duas grandes áreas: 1) orgânicas e 2) psicológicas. No entanto, essas duas causas raramente existem isoladamente, pois quem tem um problema orgânico fatalmente passa a ter um psicológico, e quem tem um psicológico, o mesmo pode influenciar a esfera orgânica (reações somatoformes ou psicossomáticas). 

Por exemplo, se uma mulher (ou mais freqüentemente, o homem) passam muito tempo sem ter relações sexuais ou tem reações de intensa frustração a isso, o organismo se protege baixando o nivel de testosterona (hormônio sexual masculino ou androgênio) que se correlaciona fortemente (tanto no homem quanto na mulher) com o desejo sexual.  Por outro lado, quando o relacionamento sexual e é muito frustrante para ambos, vocês passam a ter medo de ter relacoes sexuais e preferem reprimir seus desejos, levando a uma disfunção sexual maior ainda. Forma-se um circulo vicioso, que aniquila a vida sexual por longos periodos. Esse efeito provavelmente é a explicação para o fato de você até "fugir do assunto" e evitar qualquer iniciativa. No fundo, você  tem medo de magoar seu marido e de se magoar mais uma vez a si propria, gerando grandes angústias no relacionamento diario.

Do lado orgânico, muitas mulheres com falta total de libido manifestam um nivel muito baixo de testosterona no sangue. Se esse for o caso, tomar uma pilula de estrôgenio com uma pequena dosagem de testosterona costuma ter ótimos resultados. Na Europa e EUA tambem se receita muito um creme de testosterona, que a mulher passa na parte interna das coxas, e que é o suficiente para restabelecer os niveis e melhorar a vida sexual.

Mas tudo isso e' muito perigoso de fazer por conta propria (dosagens erradas podem provocar virilização -- voz grossa, pelos corporais -- ou disturbios menstruais e de fertilidade na mulher), e deve ser feito apenas com orientacao medica (no caso, um endocrinologista), e somente depois de se ter assegurado que sua esposa realmente tem niveis muito baixos de testosterona, atraves de exames especializados.

Para algumas mulheres, tomar pilulas anticoncepcionais diminue fortemente o desejo sexual. A variedade monofasica (todas pilulas de uma cor so') e'
a que tem mais efeito nesse sentido. Muitas mulheres se beneficiam ao tomar a pilula trifasica (Trinordiol) que tem uma dosagem menor, e afeta
menos os hormonios. Substituir a pilula por outro metodo anticoncepcional tambem pode ser uma solucao a ser tentada.

Existem outras causas organicas menos frequentes, como dispareunia (dor à penetracao vaginal), malformacoes nos orgaos genitais externos,
problemas neurologicos, etc. Alguns medicamentos antidepressivos e usados em doencas cardiacas tambem inibem muito o desejo sexual.
Recomendo que sua esposa va' a um ginecologista e faca um check-up total, inclusive neurologico, para ver se ha' alguma anormalidade.

Outro motivo, agora na area psicologica, e' uma forte inibicao do desejo sexual causado por eventos traumaticos no passado, experiencias infelizes
ou desastrosas com o sexo sem amor, estupro, abuso sexual, etc. Repressao paterna muito intensa, associando sexo com pecado, sujeira, etc.,
tambem tem efeitos muito persistentes e e' uma causa importante de frigidez em mulheres de todas faixas etarias. Se esse for o caso, uma
abordagem mista orientada por um sexologista (as tecnicas de foco consensual, como as desenvolvidas por Masters e Johnson, que voce diz ja' ter
usado) e terapia cognitiva, pode funcionar bem, com sua ajuda. Nesse caso seria interessante voces dois fazerem a terapia, e nao somente sua
esposa. Minha opiniao e' que a psicanalise dificilmente ajudaria no caso de sua esposa, portanto nao insista nessa linha.

A discrepancia muito grande entre o desejo sexual, preferencias e frequencia de relacoes entre o marido e a mulher e' mais comum do que voce
imagina, e coloca fortes tensoes no relacionamento amoroso. Estima-se que seja a causa mais comum de infidelidade sexual, principalmente por parte
do marido (muitas mulheres tem desejo sexual normal no comeco do casamento, mas por varios motivos perdem-no apos uma gravidez ou quando
relacionamento conjugal se torna problematico).

Para evitar a dissolucao do matrimonio por esse motivo, e' importante que voce entenda e respeite as diferencas que existem, e aprenda a lidar com
elas. Tenho a impressao que se sua mulher sentir que vai perde-lo devido a esse problema, ela ficara' mais interessada em enfrenta-lo com coragem,
persistencia e determinacao. Embora possa parecer para voce que e' egoismo por parte dela nao querer "ceder nem um pouquinho" ao seu desejo
sexual, levando muitas vezes a voce ficar com uma sensacao de revolta, e' preciso que voce entenda que esse problema e' tao grande para ela quanto
o e' para voce. Pode ser que voce nao entenda porque ela nao pode fazer por voce "algo que custaria tao pouco" para ela. Mas, veja do seguinte
ponto de vista: fingir estar gostando ou ter orgasmo seria pior ainda, pois seria disfarcar um problema que realmente existe, alem de ser uma
profunda indignidade para a mulher ter que trair o seu proprio corpo. Ela acabaria por ter repulsa total em relacao ao sexo, e ate' pegaria nojo de
voce.

Desejo felicidade para voce em sua busca pela harmonia sexual, que e' tao importante no relacionamento amoroso e conjugal. Muitos casais na sua
situacao conseguiram sucesso em muda-la para melhor, e nao vejo motivos para que voces nao consigam tambem.

Boa sorte

Um abraço
 

Prof. Dr. Renato M.E. Sabbatini
Professor-Adjunto, Depto. Genética Médica
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
 

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