Acidentes de Trânsito

Dr. Alberto Olavo A. Reis e Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro

Muita gente considera que os acidentes são acontecimentos fortuitos, que ocorrem ao acaso e, por isso, pouco se pode fazer para preveni-los. Mas se observarmos bem, a maioria deles não ocorreria se as pessoas estivessem alertas às providências adequadas para evitá-los

Dentre eles, os acidentes de trânsito têm um destaque particular.


O perigo sobre rodas

Inegavelmente, o automóvel entrou de vez em nosso cotidiano, facilitou a nossa vida e ampliou os limites de nossos mundos particulares, abrindo possibilidades de viajar, descansar, conhecer pessoas diferentes e lugares distantes.

Entretanto, passa praticamente despercebido o fato de, atualmente, os acidentes de trânsito terem se tornado um dos maiores problemas de saúde pública Parece que estamos nos acostumando a tal ponto com eles que já os estamos vendo como acontecimentos naturais. Em várias circunstâncias, ficamos tão impressionados com os aspectos que particularizam alguns desses acidentes que até nos esquecemos de como suas conseqüências são dolorosas e trágicas para o acidentado, sua família e a sociedade como um todo.

Muitas pessoas comparam - e com razão - as perdas de vidas e as lesões e incapacitações provocadas pelos acidentes de trânsito com aquelas resultantes de uma guerra. Talvez seja até pior, porque mesmo nas guerras existem períodos de paz e trégua.


Os tristes números do trânsito

No mundo atual, predominantemente, os acidentes de trânsito são uma das principais causas de morte e de perda total ou parcial, momentânea ou permanente, da capacidade de produção de homens adultos com idade entre 20 e 40 anos, ou seja, a população masculina jovem e em plena atividade produtiva. Só este aspecto já caracteriza a sua gravidade, pois afetam não só os acidentados e suas famílias mas, também, toda a economia do país.

Além do sofrimento humano decorrente da perda de vidas, dos dolorosos ferimentos físicos e psicológicos, da incapacitação física ou mental e das conseqüências diretas na produção econômica nacional, os acidentes de trânsito acarretam um prejuízo adicional: no Brasil, os custos decorrentes dos mesmos são da ordem de 5 bilhões de dólares por ano –uma verdadeira fortuna que poderia estar sendo aplicada na melhoria das condições de vida dos brasileiros.

Quantitativamente, representam, em nosso país, o segundo maior problema de saúde pública, só perdendo para a desnutrição. Anualmente, milhares de pessoas morrem ou se ferem em acidentes de trânsito, e mais da metade dos feridos ficam com lesões ou seqüelas permanentes. Comparativamente, é como se cidades inteiras desaparecessem a cada ano, ou tivessem toda a sua população internada em hospitais ou clínicas.

Em todo o mundo, o número de pessoas que morreram ou ficaram feridas ou incapacitadas devido a acidentes de trânsito é maior do que a totalidade de pessoas mortas ou feridas em todas as guerras modernas! Não à toa, a Organização Mundial da Saúde alerta e prevê que, daqui a 20 anos, os acidentes de trânsito representarão a terceira maior causa mundial de mortes. Isto não é extremamente grave?

 
Os acidentes de trânsito não são coisas naturais, não precisam ocorrer e podem ser prevenidos com medidas simples e fáceis, que, no entanto, envolvem mudanças de mentalidade e comportamento

Prevenir é a saída

A melhor maneira de se evitar a ocorrência de acidentes é através de uma educação permanente que mobilize e transforme os indivíduos, modificando-lhes as motivações, atitudes e comportamentos. Só uma educação continuada possibilitará que as pessoas possam viver em cidades mais organizadas e num ambiente urbano de melhor qualidade. Entretanto, cabe também ao Poder Público sua cota de responsabilidade nesse processo: medidas de engenharia de trânsito, construção de melhores estradas, sem buracos e pavimentadas, com boa iluminação e sinalização adequada, entre outras infra-estruturas absolutamente necessárias. A conjunção de esforços entre a sociedade e os governos com certeza levará à minimização desse grave problema moderno.

A educação no trânsito salva vidas e constrói uma melhor sociedade. Leis devidamente compreendidas e acatadas pela população constituem um poderoso instrumento para a prevenção de acidentes. Atualmente, isto pode ser exemplificado pela norma da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança. Sua adoção pela quase totalidade dos motoristas reduziu em muito o número de mortes, ferimentos e lesões graves decorrentes desse tipo de acidente.

Trabalhar pela prevenção significa contribuir para a diminuição do número de mortes no trânsito e evitar que inúmeras pessoas se tornem física ou mentalmente deficientes ou incapacitadas. Significa, também, evitar que seus familiares e amigos tenham uma sobrecarga imensa de trabalho e sofrimento pelo resto de suas vidas, por causa das conseqüências adversas resultantes dos acidentes de trânsito.

O novo Código de Trânsito já começa a apresentar resultados positivos: há claros sinais de queda no número de acidentes fatais e diminuição da gravidade dos ferimentos dos acidentados. Mas isto é apenas um começo. Ainda há muito o que se fazer.


Trânsito e cidadania

Cada um de nós pode contribuir de algum modo para a diminuição dos acidentes. Como há várias causas para sua ocorrência, é importante conhecê-las para que o problema possa ser atacado em várias frentes.

Por exemplo: muitos acham que os acidentes têm maior chance de ocorrer em estradas ou em situações especiais ou fora do normal. No entanto, vários estudos demonstram que a maioria dos acidentes acontece com tempo bom, durante o dia e em retas - e metade deles quando o motorista está próximo à sua residência.

Apesar de os nossos motoristas não terem o hábito de fazer periodicamente uma boa manutenção dos veículos e do mau estado de conservação de nossas ruas e estradas, ausência de sinalização, vigilância ineficiente, inexistência de passarelas para pedestres, etc., a verdade é que 90% dos acidentes são causados pelo fator humano: excesso de velocidade ou desconsideração e desrespeito às normas básicas de segurança, bem como menores ao volante situam-se entre os principais motivos. Noutras palavras, com os devidos cuidados, principalmente da parte dos motoristas, a maioria dos acidentes simplesmente não aconteceria!

Se os acidentes raramente são intencionais, também não são naturais. Podem ser evitados, sobretudo se sabemos onde, porquê e como acontecem.


O trânsito é um espaço de vida pública, de cidadania e de democracia. É onde as pessoas se encontram, se cruzam, se movimentam. Por isso, faz-se necessário haver respeito mútuo com relação às normas coletivas que garantem a liberdade de circulação de cada um

Motoristas e pedestres são personagens de uma mesma cena e, portanto, é importante que cada um desempenhe seu papel corretamente, respeitando os espaços do outro. Assim, um carro não deve parar sobre a faixa de pedestres, nem o pedestre deve atravessar fora da faixa. A obediência a essa simples recomendação evitaria que os atropelamentos se constituíssem no tipo de acidente de trânsito mais freqüente no país.

O automóvel é o veículo que mais atropela; na seqüência vêm os ônibus e as motocicletas. A outra grande incidência de acidentes, após os atropelamentos, são as quedas, em geral de motocicletas e bicicletas – cerca de metade dos acidentados em motos não faz uso do capacete, o que é contra a lei!

Nunca é demais lembrar que um dos fatores de maior causa de acidentes de trânsito é a ingestão de bebida alcoólica pelos motoristas, o que explica o fato de 75% dos acidentes de trânsito no Brasil estarem associados a seu uso.

Após tomar qualquer bebida alcoólica, a pessoa tem sua capacidade visual e auditiva diminuídas, sua coordenação motora prejudicada e experimenta uma sensação de desinibição e falsa segurança. O motorista alcoolizado perde o cuidado, o temor e o controle do carro.

Estatisticamente, o maior consumo de bebida alcoólica ocorre na faixa etária de 19 a 40 anos de idade, e os acidentes associados ao uso de álcool consistem, quase sempre, em capotamento e colisão - o que demonstra que o motorista estava em alta velocidade no momento em que perdeu o controle do veículo.

Dirigir com sono é outro grande assassino no trânsito. Motoristas profissionais, como caminhoneiros, que dirigem muitas horas por longas distâncias, e em períodos noturnos, são os principais responsãveis pelo maior número de acidentes dessa natureza, que são agravados pelo enorme porte e peso dos seus veículos. É freqüente vermos caminhões tombados nas laterais ou no vão central de rodovias, devido ao fato de perderem o controle do veículo ao adormecerem ao volante.


Mas isso pode acontecer com qualquer um, portanto é importantíssimo parar imediatamente ao perceber que está ficando sonolento, descansar um pouco ou tomar algum estimulante leve, como cafeína (café ou coca-cola) para ativar o sistema nervoso, antes de voltar a dirigir. Os motoristas, no entanto, não devem fazer uso de "bolinhas" ou outros medicamentos fortes, que necessitam receita médica, pois o efeito pode ser pior ainda, ao dar uma falsa segurança.

A quase totalidade dos melhores meios técnicos de segurança torna-se simplesmente ineficaz frente à irresponsabilidade desmedida. É interessante se divulgar que nos casos de batidas em alta velocidade, por exemplo, o cinto de segurança só apresenta capacidade de proteção até a velocidade de 80 km/hora. Por sua vez, o air-bag - colchão de ar que se enche quando ocorre uma colisão, disponível nos carros mais modernos - protege até a velocidade de 110 km/hora.

O mais importante é o respeito de todos os que usam a via pública para com os princípios de uma vida civilizada

Para Saber Mais

Prevenção de Acidentes na Infância e Adolescência. RedePlus
Associação Brasileira de Medicina do Tráfego
Associação Brasileira para a Prevenção de Acidentes



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