Medo do Dentista? Não Mais...

Dra. Valdenize Tiziani


Você sente "frio na barriga" quando ouve o barulho do motorzinho do dentista? Quando ele aproxima a broca das áreas sensíveis do dente, a sensação é mesmo de horror. A anestesia é requisitada sem argumentos. Mas graças às pesquisas de físicos de São José dos Campos, muito em breve, tudo isso será coisa do passado.

A novidade é uma broca odontológica recoberta por diamante sintético -CVD. O acoplamento de ondas de ultra-som faz com que o funcionamento da mesma seja por vibração. Esta é a grande diferença em relação às convencionais, que funcionam por rotação e geram o incômodo barulho.

Antes de ser lançada no mercado, a nova tecnologia foi estudada por seis anos e testada por 500 dentistas. Os resultados mostram que ela reduz a dor em 70% dos casos, evitando o uso de anestesia. A explicação é que o mecanismo de vibração permite atingir a cavidade dentária sem esmagar a dentina, que é o tecido sensível do dente. Além disso, os pesquisadores explicam que as brocas de diamante acopladas ao ultra-som permitem um tratamento mais preciso e minimamente invasivo. A superfície do diamante-CVD é mais delicada, erodindo a cavidade de forma mais uniforme.

O desenvolvimento desta tecnologia teve início no Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais liderados pelo físico Vladimir Airoldi que é um dos cientistas pioneiros no estudo do diamante sintético no Brasil. Juntamente com outros dois colegas físicos do Inpe e mais quatro pesquisadores estabeleceu uma empresa denominada Clorovale para comercializar a tecnologia.

A empresa é a única no mundo dominando a tecnologia de produção de pontas odontológicas com diamante sintético e adentrou o mercado mundial de brocas odontológicas que movimenta R$1,1 bilhão por ano. No Brasil, o mercado que gira em torno de 160.000 odontólogos, movimenta R$70 milhões por ano. O preço de cada broca para emprego do ultra-som é R$80,00, o que é bem mais caro que uma broca de diamante convencional. Entretanto, o argumento forte é de que elas são 30 vezes mais duráveis e o resultado é muito mais refinado.

Diamante CVD - Chemical Vapor Deposition


O diamante, como encontrado na natureza, é produto de fenômenos naturais durante a formação do planeta. É o material mais duro, onde moléculas de carbono têm alto grau de organização e a ligação entre as moléculas de carbono é muito forte. Desde 1954 estuda-se a geração sintética deste material a partir de compostos gasosos, mas somente a partir da década de 70 esta tecnologia teve um avanço maior. A escola russa descobriu a importância de ativar o hidrogênio neste processo e os estudos tomaram vulto, particularmente no Japão. Hoje o diamante-CVD tem muita importância econômica pelas propriedades que apresenta, como dureza, estabilidade, baixo coeficiente de atrito, resistência a tratamentos químicos, à radiação e às diferenças de temperatura. A aplicação inclui a área espacial, microeletrônica, mecânica, óptica, química, cerâmica, equipamentos e implantes médicos.


As brocas já foram patenteadas no Brasil, EUA, Japão, Canadá e Europa, visando a proteção intelectual e a possibilidade de comercializar internacionalmente.

O desenvolvimento desta tecnologia foi possível graças ao apoio da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que através de um programa chamado PIPE - Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas injetou U$76 mil para o avanço das pesquisas junto ao Inpe. Os royalties serão distribuídos entre os três parceiros: Clorovale, Inpe e FAPESP.

Este é um exemplo muito bom da interação academia - empresa com suporte de agências de apoio à pesquisa. Os conhecimentos de longos anos de pesquisa são transformados em riqueza para o país. O resultado são soluções práticas, econômicas e do interesse coletivo.

Para Saber Mais

Tecnologia. Patentes em Ação. Revista Pesquisa FAPESP, 83, Jan 2003.

Sem medo do motorzinho. Revista Pesquisa FAPESP 78, Ago 2002.

Site do Projeto: http://www.cvd-diamante.com.br/


Valdenize Tiziani, Ph.D.
Pró Reitora de Pesquisa e Pós Graduação
Universidade Estadual Vale do Acaraú
Sobral, CE
03.Jan.2003

Imagem: Revista Pesquisa FAPESP

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